15 de fevereiro de 2018

O PRIMEIRO CARNAVAL DE GABRIELE E O CHOQUE DE VIDELVINO

Cabelos loiros e longos. Olhos azuis da cor do mar. Rosto desenhado. Dentes alvos e perfeitos que fazia de seu sorriso uma atração. Corpo escultural e bronzeado na medida. Linda? Muito mais do que isso. Sempre bem vestida, com aprumo e discrição, com roupas de grifes famosas. Mas era com um - dos inúmeros biquínis - que Gabriele fazia até instinto de crente titubear. Perfeição é muito pouco para defini-la. Além disso, o pai era milionário o que lhe proporcionou estudar nos melhores colégios da capital, além de frequentar muitos cursos. Poliglota, além do português impecável, escrevia e falava fluentemente mais quatro idiomas: inglês, espanhol, francês e italiano.

Não bebia nem fumava. Combatia o ‘tédio’ com muita malhação. Seguia rigorosamente a dieta da nutricionista.  Saía poucas vezes. Só frequentava baladas de boates renomadas e festas de abastados. Os poucos privilegiados que ficaram com ela conseguiram, no máximo, acariciar seus cabelos. Desconversava quando, com as poucas amigas, o assunto era sexo.  Não tinha vergonha de confidenciar que era virgem e de admitir que sentia uma vontade quase incontrolável de perdê-la, porém tinha que ser com um homem que  realmente sentisse tesão.  
      
Aos 20 anos de idade se permitiu participar do Carnaval. O seu primeiro. Na primeira noite limitou-se a ficar aproximadamente uma hora no QG. Na segunda, embalada com cinco latinhas de cerveja, chegou a adentrar no clube, mas logo saiu por sentir-se mal. Na terceira não participou da festa. Na quarta e última noite, completamente recuperada do mal-estar, suas amigas conseguiram persuadi-la a acompanhá-las.
  
Por volta das 23h faltou luz no QG. Um problema no interruptor obrigou Alexandre, o presidente do bloco, acordar um eletricista para providenciar o conserto. Naquela noite, Videlvino, o eletricista, casado e pai de três filhos, ainda exalava o cheiro de suor. Seu hálito denunciava que, depois de muitos ‘martelinhos’, o cardápio do jantar incluía salame, cebola em conserva e arroz e feijão temperados com muito alho. Vestiu seu macacão amarrotado e sujo e calçou suas botas imundas e malcheirosas.
          
Quando chegou ao QG, iluminado pelos faróis dos carros, estava ainda meio tonto e sonolento. Esbarrou-se com Gabriele. Ambos se encararam. Ele seguiu para o local onde o problema aconteceu. Ela, tomada por um desejo incontrolável, foi atrás. Em cinco minutos tudo estava novamente iluminado. Videlvino recebeu mais do que havia cobrado e, quando se preparava para entrar no automóvel de Alexandre e retornar para sua casa, foi brutalmente puxado por Gabriele. Ela o pegou pelo braço e o levou até seu carro. Os gritos de Alexandre perguntando o que estava acontecendo foram insuficientes. Quando notou, o veículo de Gabriele, com Videlvino junto, já tinha dobrado a esquina.  

Cem metros adiante ela estacionou e o atacou ferozmente. Despi-o. E em questão de segundos as carícias passaram a arranhões. Também ficou nua. Ele sussurrava. Ela gritava. Ele beijava. Ela mordia. O que não deu para fazer dentro do automóvel foi consumado fora. Em 20 minutos ela fez tudo o que se possa imaginar. Quando notou que Videlvino estava à beira de um desmaio (ou, quem sabe, infarto) parou. Levou-o para casa. Antes, porém, exigiu que prometesse que aquela noite teria continuação. Cansado, com a respiração ofegante, o eletricista, que não tinha forças sequer para falar, apenas fez um aceno positivo com a cabeça.

Ao ver o marido naquele estado, sua esposa, assustada, indagou o que tinha acontecido. Videlvino, depois de três minutos recuperando o ar e dois copos de água, gaguejou: fui atingindo por um choque quando peguei um fio desencapado, justamente o 'fio terra'.