Várias vezes,
quando se reuniam, os amigos de Nélvio se perguntavam quando ele se envolveria
num relacionamento amoroso sério. O engenheiro, sua profissão, que já não era
tão jovem, não tinha namorada. Era do tipo ‘ficar’; sem nenhum compromisso.
Certa vez,
Nélvio foi visto com uma mulher escultural: bonita, corpo perfeito, educada e
de bom gosto no vestir. Não demorou muito e o par foi flagrado novamente.
Os amigos, em
mais um encontro, foram unânimes: desta vez Nélvio namoraria sério. Sairia com
o novo amor de mãos dadas. Jantaria fora. Aos domingos, almoçaria na casa dela
com os seus pais.
O tempo
passou. O engenheiro continuava a se encontrar com a ‘preatty woman’, porém
jamais em público. Isso aguçava a curiosidade dos amigos. Eles não entendiam o
motivo de ele não a assumir.
Numa
sexta-feira, depois das 18h, na choperia, os amigos se encontram. De repente,
discretamente, aparece o Nélvio - sozinho -. Depois de muito trago e papo
furado, um deles, sem rodeios, olha para o Nélvio e pergunta: Por que você não
namora sério om aquela ‘deusa’? O engenheiro tomou, sossegadamente, um gole de
chope, sorriu, e apenas disse que preferia ser o ‘outro’. Ninguém entendeu.
Nélvio, então, explicou: “A moça, de fato, é bonita. Percebo, inclusive, que qualquer
um de vocês, a exemplo de muitos outros, gostaria de, digamos, possuí-la. Ou,
quem sabe, tê-la como esposa. Tenho consciência disso e, por isso, resolvi agir
de forma diferenciada. Não quero ser o ‘oficial’. Prefiro ser o ‘outro’”.
Bebericou
mais um gole e continuou: “Sendo ela uma ‘mulher perfeita’, não faltarão homens
a cortejá-la. Ela não resistirá e, inevitavelmente, cedo ou tarde, se entregará
a um dos pretendentes. Quando isso acontecer, se eu for o ‘titular’, serei
tachado de ‘corno’ o que, para mim, é uma desonra”. Naquilo toca o celular. O
engenheiro apenas diz: no lugar de sempre. Paga a sua parte da conta, se
despede e sai. Os amigos, boquiabertos, nada falaram.
Na verdade,
Nélvio era adepto ao adágio ‘melhor saborear ‘filé’ com os outros do que ‘pelanca’
sozinho’. Porém, com um detalhe: que o filé não fosse dele.