É bem emblemático o caso do ganhador da mega-sena, que tão logo resgatou a bufunfa, pegou a trouxinha e roupa e foi embora do morro. Meteu o pé, vazou, partiu.
Lembro-me também de quando o Zeca Pagodinho começou a ficar rico, muitos e muitos anos - e chopps - atrás. Ato quase contínuo, o sujeito providenciou uma bela cobertura à beira-mar. Quando questionado sobre o 'novo barraco' de alguns milhões, justificou sua mudança de endereço com o argumento da busca de uma melhor qualidade de vida para os filhos.
Claro que eu não estou recriminado as atitudes do novo milionário e do velho pé de cana. A grana é deles. Podem fazer o que bem entenderem. Até queimar.
A questão crucial, a meu ver, é desnudar o discurso babaca e a 'glamourização' da favela que alguns fazem questão de espalhar aos quatro ventos.
Foi esse discurso que, alimentando uma inédita imitação do inferior, encheu de funk as novelas e programas de TV - canal aberto. Foi o mesmo discurso que tomou para si a defesa de bandidos e marginas e redigiu a canonização de drogados infratores.
Resumindo: é o discurso que prega a pureza e simplicidade do pobre, em contraposição à insensibilidade e desamor do rico.
É o discurso que cai por terra assim que o sambista prospera e após seis bolinhas milagrosas saírem no cartão certo.