*O
Brasil está perto dos 200 milhões de habitantes, com cerca de 150 milhões
dependendo exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Quem pode, paga um
plano de saúde. Atualmente, ter assistência médica privada é o segundo ‘objeto
de desejo’ do brasileiro, perdendo somente para a casa própria.
Este
anseio tem várias explicações. Uma importante é que o SUS projetado,
concebido e desejado é bastante diferente daquele com que nos deparamos no
cotidiano.
O governo tenta explicar que é por causa da falta de médicos,
porém precisa ser claro com a população e dizer, por exemplo, quanto o SUS paga
por uma consulta de um pediatra, de um ginecologista (menos de R$ 3).
O povo precisa saber, ainda, quanto o SUS paga por uma
cirurgia de adenoide-amígdala (R$ 183,41), para retirar o apêndice (R$ 161,03)
- esses valores incluem cirurgião, assistente e anestesista -. E mais: para uma
curetagem uterina (R$ 67,03), para uma ultrassonografia abdominal (R$ 24,20),
para um raio X do tórax (R$ 14,32).
O Brasil investe menos em saúde (porcentual do PIB) do que a
média dos países africanos e de alguns da América do Sul.
É amadora a gestão em vários locais nas esferas federal,
estadual e municipal. São vergonhosos os desvios que ainda teimam em ocorrer.
Como se conseguem facilmente tantos recursos para estádios de
futebol e não temos recursos para financiar adequadamente a saúde da população?
Sabe-se que ao longo dos últimos anos a esfera federal se vem
desonerando em relação aos investimentos na saúde, quando comparados aos
recursos de estados e municípios. Quem mais arrecada tributos no Brasil (uma
das maiores cargas tributárias do mundo) é o governo federal e
hoje
ele contribui menos do que os estados e municípios juntos.
*Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica
Brasileira.