Em 1984, Miriam Mello, então com 31 anos de idade e
grávida de quatro meses, teve um pesadelo. Nele, alguém disse que o bebê seria
menina, porém nasceria com deficiência mental. Miriam, que nasceu em berço
espírita – sua mãe é médium -, acreditou que aquilo era um aviso. Procurou o
médico e o alertou. Ele não acreditou. Disse que a saúde dela estava perfeita. E a do feto também. Tanto é que nem requisitou
um exame de raio x. De fato, a gestação não apresentava problema algum. Porém,
a mulher tinha certeza que a gravidez estava fadada ao fracasso. O marido,
alguns familiares e amigos chegaram a questionar sua saúde mental.
O sexto sentido de Miriam começou a se
confirmar dias antes do parto. Um exame confirmou que o neném nasceria com problemas.
Quando veio ao mundo, tinha quase seis quilos. O corpo tinha pouco mais de dois
quilos. O resto do peso se concentrava na cabeça. Um caso raro. Depois do
nascimento, o crânio continuou a crescer um centímetro ao dia. A medicina, à
época, não podia fazer nada. Depois de vários dias internadas, mãe e filha vão
para casa. Miriam, então, tem outra visão: “Estava passando roupa quando o
espírito dela avisou-me que iria desencarnar (morrer) e pedia para que eu não
chorasse”, relembra. Cinco dias depois a criancinha faleceu.
NOVA
GRAVIDEZ
O episódio deixou Miriam, ligada ao
espiritismo desde os nove anos, ainda mais confiante na doutrina. Sua fé,
inclusive, fez com que não tivesse medo de engravidar três meses depois que
perdeu a filha. Os médicos afirmavam que por 12 anos ela não poderia
engravidar, pois o problema se repetiria. Fizeram-na assinar um termo
eximindo-os de qualquer responsabilidade. A gravidez ocorreu sem nenhum
problema. No dia 15 de novembro de 1985 nasceu sua filha caçula com ótima
saúde. Até hoje é sadia. Os médicos não têm explicação cientifica para o caso.
NO
BRASIL, 20 MILHÕES DE PESSOAS SIMPATIZAM COM O ESPIRITISMO
Miriam frequenta o Centro Espírita Seara da Fé de São
Miguel do Oeste desde sua fundação, em junho de 1983. Não perde uma sessão. “Quando
faltei foi por causa de doença”, diz. Assim como ela, várias pessoas participam
das reuniões que são realizadas nas noites de quarta-feira e domingo. O número
de participantes, segundo o vice-presidente do centro, Nilo Stürmer, cresce a
cada ano. Hoje são mais de 150 declarados.
Os encontros
são norteados pela doutrina fundada pelo francês Allan Kardec, o ‘pai do
espiritismo’. As mensagens transmitidas não diferem muito das outras religiões.
É destacada a importância de praticar o bem, perdoar, ajudar o próximo, de ter fé em Deus,
enfim seguir o que está na Bíblia. A diferença é que a interpretação do livro
sagrado é um pouco diferente de outras doutrinas. Seus principais princípios
são a existência de Deus, imortalidade do espírito, pluralidade das existências
e de mundos habitados e, comunicabilidade entre encarnados e desencarnados. Stürmer
acrescenta que o espiritismo não é uma religião organizada.
Não há sacerdotes,
nem chefes religiosos, nem templos suntuosos e rituais. “Também não adota qualquer
ornamentação específica para cultos. Apenas procuramos reviver os ensinos de
Jesus”, acrescenta. Para Stürmer, o espiritismo é sério. Ele desaconselha a
tradicional ‘brincadeira do copo’ para atrair desencarnados. Nela, um grupo de
pessoas faz um círculo. Um copo é colocado no meio, rodeado de pedaços de
papel, com letras do alfabeto que servem para que o suposto espírito responda
perguntas. “Sou extremamente contra, pois quase sempre são atraídos espíritos
inferiores e zombeteiros”, alerta.
Ao todo, no Brasil, existem 12 mil centros e 20
milhões de pessoas simpatizam com o espiritismo, segundo dados da Federação
Espírita Brasileira. No
espiritismo, acredita-se que pagamos hoje por erros de vidas passadas. Segundo
a doutrina, o desencarnado pode levar dias ou anos para reencarnar novamente.
MENSAGEM
ESPÍRITA ABSOLVE MULHER
O espiritismo, por meio de mensagens psicografadas, já
serviu até como prova em processos judiciais. O caso mais recente aconteceu em
Viamão, RS, em 2006. Uma mulher foi absolvida pelo júri da acusação de ter assassinado
o amante, depois que o advogado de defesa apresentou uma carta psicografada por
um médium que teria sida enviada pelo amante inocentando-a.
CURA
DE DOENÇAS
São vários os relatos de pessoas que
encontram no espiritismo a cura para seus males. Uma mulher que frequenta o
centro em São Miguel ,
que prefere não se identificar, afirma ter conseguido se livrar da depressão
depois que começou a ir ao centro. “Vivia confusa e triste. Hoje estou
tranquila e convicta de que a vida não acaba com a morte e, principalmente, que
temos que passar por algumas provações devido a equívocos cometidos em outras
vidas”, comenta.
Nilo Stürmer assegura que o espiritismo
responde as questões fundamentais da vida como, por exemplo, quem sou? De onde
vim? Para onde vou? O que é a morte? Por que estamos no mundo? Por que há
pessoas que sofrem mais que outras? Por que alguns nascem cegos, aleijados
enquanto outros vêm ao mundo saudáveis? Por que Deus permite tamanha
desigualdade entre seus filhos? Por que há tanta desgraça no mundo e a tristeza
supera a alegria? A espírita, Daléia Brunetto, afirma que, por meio da doutrina
espírita, encontrou respostas para todas essas e outras indagações e, a partir
daí, passou a entender melhor o mundo e a vida.
EQM: "ERA
UMA SENSAÇÃO MARAVILHOSA, SENTI MUITA PAZ”
Espiritismo e Experiência de Quase
Morte (EQM) caminham juntos. Estudos apontam que todos que passaram por esse
‘quadro’ mudaram a personalidade. Ficam mais despreocupados e não temem a
morte. O fotógrafo, Evaldo José Metnek, 56, de Cunha Porã, passou pela
experiência.
Foi em janeiro de 2007. Evaldo e alguns amigos
viajavam de moto pelos países do Mercosul. Estavam em Mendonza, na Argentina,
quando ficou tonto e caiu. “Senti muita dor e a visão foi escurecendo”, lembra.
Os amigos o levaram para o hospital. O coração parou de bater. O médico chegou
a comentar que dificilmente ele iria sobreviver. Começou, então, a sessão de
choques no peito para reanimá-lo. Foram várias tentativas até que Evaldo reagisse.
“Não lembro de nada disso. Apenas recordo que estava num lugar que não sei
defini-lo, mas era uma sensação maravilhosa, senti muita paz”, afirma. “Havia,
também, um túnel com luz branca. Quando saí dele é que acordei e dei de cara
com um enfermeiro”, acrescenta. O fotógrafo diz que ficou espantado quando o
médico lhe disse que havia ‘nascido de novo’. Quando retornou a Cunha Porã,
Evaldo passou por uma bateria de exames, porém nem um problema foi
diagnosticado.
O
QUE DIZ A MEDICINA
Um neurologista da região, que optou pelo anonimato,
diz que a EQM é, na verdade, um exemplo de disfunção do sono, invasão de movimento
rápido dos olhos (MRO). Nesse distúrbio a mente de uma pessoa
pode acordar antes de seu corpo, tendo alucinações e a sensação de estar
fisicamente solta do corpo. “As EQMs são invasões de MROs acionadas no cérebro
por eventos traumáticos, como ataques cardíacos”, assegura o médico. Se isso
for verdade, significa que as experiências de algumas pessoas após a quase
morte são uma confusão por terem entrado rápida e inesperadamente em um
estado de sonho.
Conforme o neurologista, a área em que a invasão MRO é
acionada fica no tronco cerebral - região que controla a maioria das
funções básicas do corpo - e ela pode funcionar independentemente da parte
superior do cérebro. Então, mesmo depois de as partes superiores do cérebro
terem morrido, o tronco cerebral pode continuar funcionando e a invasão do MRO
ainda pode acontecer.