24 de maio de 2012

MORTE: FIM OU COMEÇO?

          Em 1984, Miriam Mello, então com 31 anos de idade e grávida de quatro meses, teve um pesadelo. Nele, alguém disse que o bebê seria menina, porém nasceria com deficiência mental. Miriam, que nasceu em berço espírita – sua mãe é médium -, acreditou que aquilo era um aviso. Procurou o médico e o alertou. Ele não acreditou. Disse que a saúde dela  estava perfeita.  E a do feto também. Tanto é que nem requisitou um exame de raio x. De fato, a gestação não apresentava problema algum. Porém, a mulher tinha certeza que a gravidez estava fadada ao fracasso. O marido, alguns familiares e amigos chegaram a questionar sua saúde mental.     
         O sexto sentido de Miriam começou a se confirmar dias antes do parto. Um exame confirmou que o neném nasceria com problemas. Quando veio ao mundo, tinha quase seis quilos. O corpo tinha pouco mais de dois quilos. O resto do peso se concentrava na cabeça. Um caso raro. Depois do nascimento, o crânio continuou a crescer um centímetro ao dia. A medicina, à época, não podia fazer nada. Depois de vários dias internadas, mãe e filha vão para casa. Miriam, então, tem outra visão: “Estava passando roupa quando o espírito dela avisou-me que iria desencarnar (morrer) e pedia para que eu não chorasse”, relembra. Cinco dias depois a criancinha faleceu.   
NOVA GRAVIDEZ
         O episódio deixou Miriam, ligada ao espiritismo desde os nove anos, ainda mais confiante na doutrina. Sua fé, inclusive, fez com que não tivesse medo de engravidar três meses depois que perdeu a filha. Os médicos afirmavam que por 12 anos ela não poderia engravidar, pois o problema se repetiria. Fizeram-na assinar um termo eximindo-os de qualquer responsabilidade. A gravidez ocorreu sem nenhum problema. No dia 15 de novembro de 1985 nasceu sua filha caçula com ótima saúde. Até hoje é sadia. Os médicos não têm explicação cientifica para o caso.
NO BRASIL, 20 MILHÕES DE PESSOAS SIMPATIZAM COM O ESPIRITISMO
          Miriam frequenta o Centro Espírita Seara da Fé de São Miguel do Oeste desde sua fundação, em junho de 1983. Não perde uma sessão. “Quando faltei foi por causa de doença”, diz. Assim como ela, várias pessoas participam das reuniões que são realizadas nas noites de quarta-feira e domingo. O número de participantes, segundo o vice-presidente do centro, Nilo Stürmer, cresce a cada ano. Hoje são mais de 150 declarados.
          Os encontros são norteados pela doutrina fundada pelo francês Allan Kardec, o ‘pai do espiritismo’. As mensagens transmitidas não diferem muito das outras religiões. É destacada a importância de praticar o bem,  perdoar, ajudar o próximo, de ter fé em Deus, enfim seguir o que está na Bíblia. A diferença é que a interpretação do livro sagrado é um pouco diferente de outras doutrinas. Seus principais princípios são a existência de Deus, imortalidade do espírito, pluralidade das existências e de mundos habitados e, comunicabilidade entre encarnados e desencarnados. Stürmer acrescenta que o espiritismo não é uma religião organizada.
         Não há sacerdotes, nem chefes religiosos, nem templos suntuosos e rituais. “Também não adota qualquer ornamentação específica para cultos. Apenas procuramos reviver os ensinos de Jesus”, acrescenta. Para Stürmer, o espiritismo é sério. Ele desaconselha a tradicional ‘brincadeira do copo’ para atrair desencarnados. Nela, um grupo de pessoas faz um círculo. Um copo é colocado no meio, rodeado de pedaços de papel, com letras do alfabeto que servem para que o suposto espírito responda perguntas. “Sou extremamente contra, pois quase sempre são atraídos espíritos inferiores e zombeteiros”, alerta.  
         Ao todo, no Brasil, existem 12 mil centros e 20 milhões de pessoas simpatizam com o espiritismo, segundo dados da Federação Espírita Brasileira.        No espiritismo, acredita-se que pagamos hoje por erros de vidas passadas. Segundo a doutrina, o desencarnado pode levar dias ou anos para reencarnar novamente.
MENSAGEM ESPÍRITA ABSOLVE MULHER
         O espiritismo, por meio de mensagens psicografadas, já serviu até como prova em processos judiciais. O caso mais recente aconteceu em Viamão, RS, em 2006. Uma mulher foi absolvida pelo júri da acusação de ter assassinado o amante, depois que o advogado de defesa apresentou uma carta psicografada por um médium que teria sida enviada pelo amante inocentando-a.
CURA DE DOENÇAS
         São vários os relatos de pessoas que encontram no espiritismo a cura para seus males. Uma mulher que frequenta o centro em São Miguel, que prefere não se identificar, afirma ter conseguido se livrar da depressão depois que começou a ir ao centro. “Vivia confusa e triste. Hoje estou tranquila e convicta de que a vida não acaba com a morte e, principalmente, que temos que passar por algumas provações devido a equívocos cometidos em outras vidas”, comenta. 
         Nilo Stürmer assegura que o espiritismo responde as questões fundamentais da vida como, por exemplo, quem sou? De onde vim? Para onde vou? O que é a morte? Por que estamos no mundo? Por que há pessoas que sofrem mais que outras? Por que alguns nascem cegos, aleijados enquanto outros vêm ao mundo saudáveis? Por que Deus permite tamanha desigualdade entre seus filhos? Por que há tanta desgraça no mundo e a tristeza supera a alegria? A espírita, Daléia Brunetto, afirma que, por meio da doutrina espírita, encontrou respostas para todas essas e outras indagações e, a partir daí, passou a entender melhor o mundo e a vida.  

EQM: "ERA UMA SENSAÇÃO MARAVILHOSA, SENTI MUITA PAZ”
         Espiritismo e Experiência de Quase Morte (EQM) caminham juntos. Estudos apontam que todos que passaram por esse ‘quadro’ mudaram a personalidade. Ficam mais despreocupados e não temem a morte. O fotógrafo, Evaldo José Metnek, 56, de Cunha Porã, passou pela experiência.
          Foi em janeiro de 2007. Evaldo e alguns amigos viajavam de moto pelos países do Mercosul. Estavam em Mendonza, na Argentina, quando ficou tonto e caiu. “Senti muita dor e a visão foi escurecendo”, lembra. Os amigos o levaram para o hospital. O coração parou de bater. O médico chegou a comentar que dificilmente ele iria sobreviver. Começou, então, a sessão de choques no peito para reanimá-lo. Foram várias tentativas até que Evaldo reagisse. “Não lembro de nada disso. Apenas recordo que estava num lugar que não sei defini-lo, mas era uma sensação maravilhosa, senti muita paz”, afirma. “Havia, também, um túnel com luz branca. Quando saí dele é que acordei e dei de cara com um enfermeiro”, acrescenta. O fotógrafo diz que ficou espantado quando o médico lhe disse que havia ‘nascido de novo’. Quando retornou a Cunha Porã, Evaldo passou por uma bateria de exames, porém nem um problema foi diagnosticado.  
O QUE DIZ A MEDICINA
            Um neurologista da região, que optou pelo anonimato, diz que a EQM é, na verdade, um exemplo de disfunção do sono, invasão de movimento rápido dos olhos (MRO). Nesse distúrbio a mente de uma pessoa pode acordar antes de seu corpo, tendo alucinações e a sensação de estar fisicamente solta do corpo. “As EQMs são invasões de MROs acionadas no cérebro por eventos traumáticos, como ataques cardíacos”, assegura o médico. Se isso for verdade, significa que as experiências de algumas pessoas após a quase morte são uma confusão por terem entrado rápida e inesperadamente em um estado de sonho.
         Conforme o neurologista, a área em que a invasão MRO é acionada fica no tronco cerebral - região que controla a maioria das funções básicas do corpo - e ela pode funcionar independentemente da parte superior do cérebro. Então, mesmo depois de as partes superiores do cérebro terem morrido, o tronco cerebral pode continuar funcionando e a invasão do MRO ainda pode acontecer.

POVO PACATO

          A culpa do sofrimento do povo, seja onde for, é do próprio povo. O problema é a passividade das pessoas. Lembro François Guizot: “Nada é tão nocivo para os povos do que se darem por satisfeitos com meras palavras e aparências”. Mesmo tanto tempo depois, a frase do político e pensador francês do século XIX, vale para os dias atuais.
         A pessoa digna não ‘se deixa levar’ por belas palavras, mimos e, principalmente, aparências. Ela luta por seus direitos. Não é acomodada.