Não é minha área. Sou jornalista
opinativo. Além disso, estou mais para acadêmico de Direito. Mesmo assim, me
aventurei naquela que sempre foi minha paixão: o jornalismo investigativo.
Fazem mais de 30 dias que estou envolvido na elaboração de uma grande reportagem - em um município do Extremo Oeste.
Prevejo que, para concluí-la, serão necessários, no mínimo, mais o dobro desse tempo. Isso se tudo ocorrer conforme o planejado. Já desvendei o fio da meada. Mas sem provas não adianta nada.
Hoje, por exemplo, durante parte da
tarde, me dediquei a colher mais informações. Além de a maioria optar pelo silêncio, tem que averiguar a veracidade do que disseram aqueles que colaboraram com depoimentos. ‘Cruzar dados’. Outro obstáculo é o acesso a documentos.
Por volta das 21h30 iniciei os trabalhos
de organizar tudo o que tenho, além de pesquisar, ler teses e livros e
continuar a redação da matéria. Agora são 04h20 e ainda há muito a fazer. E já
teve outras madrugadas assim.
Mas quando se faz algo que se gosta o
tempo passa rápido. E o cansaço desaparece.
Em tempo: lembro de uma grande reportagem que elaborei. Foram os projetos experimentais de rádio e televisão - 30 minutos cada um - de conclusão do curso de Jornalismo.
Resolvi, como em outros casos, 'mexer em vespeiro' e produzir duas matérias (rádio e televisão) sobre uma chacina, ocorrida em 1983, em Barracão, PR, que fica junto a Dionísio Cerqueira, SC.
Taxistas das duas cidades - e outras da região - invadiram a cadeia. Sete pessoas - uma mulher e seis homens - acusados de arquitetarem uma trama para roubar taxistas, além de assassinar dois, foram linchados.
Há depoimentos que dizem que, no mínimo, três eram inocentes. O processo investigatório para esclarecer as circunstâncias dos crimes e, obviamente, punir os responsáveis se arrastou por vários anos. Passou nas mãos de vários promotores de Justiça.
Depois de muito tempo foi arquivado, pois, conforme o Ministério Público, não se conseguiu identificar quais foram os autores dos golpes fatais que causaram as mortes.
Nenhum dos supostos acusados foi preso. Tive acesso a algumas fotografias. Os acusados foram amarrados em carros e arrastados, em estrada de chão, por mais de três quilômetros. E teve mais coisa. A barbárie não foi elucidada.
Estranhei que o juiz, o promotor de Justiça e o policial de plantão, quando o fato aconteceu, se recusarem a conceder entrevistas, mesmo sabendo que nada seria divulgado em meios de comunicação - apenas para a banca. Além disso, foram oferecidos meios como o de modificação de voz e de não aparecer o rosto. Não teve jeito. Sequer informações repassaram. Um deles, inclusive, não imagino a razão, criticou o meu trabalho investigativo.