21 de novembro de 2017

MÚSICA E CASAMENTO (da série vale a pena ler de novo)

A música '1979' – Smaching Pumpkins’ nem tinha terminado e eu já estava pedindo para que o garçom a colocasse novamente. “Mas é a quinta vez”, reclamou o jovem vestido caracteristicamente de calça preta e camisa branca.

Na verdade isso já estava virando rotina. Toda noite, por volta das 19h, eu e o seu Favari nos encontrávamos no bar do hotel. Foi em maio de 1996, lá pelos meus 23 anos de idade, em Chapecó, quando era repórter da RBS TV. E sempre era o mesmo ritual: eu levava o CD e pedia para o garçom colocar o meu som preferido na época.

Naquele horário só eu e o Fava, um advogado aposentado bem sucedido, frequentávamos o local. Devia ser por isso que quase sempre era atendido. Pelo menos até às 20h30 quando o movimento efetivamente começava.

Certa vez o advogado de outrora me disse para não me entusiasmar com aquela canção americana como ele a definia. Afirmava - como de fato ocorreu - que eu iria enjoar. Retruquei. Afirmei que jamais deixaria de curtir aquela música. Favari, então, com a sabedoria que só os acima dos 50 anos detém, sorriu e falou: “Engana-se meu jovem repórter”.

O senhor de cabelos grisalhos comparou minha voracidade em ouvir repetidamente aquela música com o casamento. Antes que abrisse minha boca, que naquele momento saboreava um longo gole de uísque 12 anos, disse-me: “No começo é assim. Não muito tempo depois vem a rotina e, com ela, o cansaço e a apatia”.

Fingi não entender. Ele, então, explicou-me que o casamento não difere muito de uma canção de sucesso que, no começo, é executada várias vezes ao dia, porém, com o passar do tempo, sequer é selecionada na programação da madrugada - quando são poucos os ouvintes. “O tempo, quase sempre, transforma o entusiasmo em tédio”, filosofou o divorciado de três mulheres.


Então, indaguei: “E o que dizer daqueles grandes sucessos que depois de muito tempo reaparecem e sempre agradam?”, Esses, disse ele, são como as ex-esposas ou ex-namoradas. Foi bom enquanto durou. Só que não deu mais certo, mas depois de um tempo, somente por alguns momentos, sem compromisso, nos fazem bem. Naquele momento tocou o aparelho celular dele que apenas disse (quase que sussurrando): “no mesmo lugar, no horário de sempre”. Era uma de suas ex-mulheres. A segunda para ser mais exato. E ela não queria discutir pensão...

E COMO DISSE O ILUSTRE (o cafajeste)

Há alcoólatras que se ganhar um bafômetro como presente na festa de amigo-secreto, o bafômetro morre de cirrose antes do fim da festa. 

HÁ DEZ ANOS

Barra Bonita, escandalosamente, foi considerado o município mais violento do Estado. Os critérios utilizados na pesquisa foram equivocados. Por outro lado, só assim a cidade foi comentada em toda Santa Catarina.

Brincadeira à parte, esse tipo de análise, usando métodos comparativos sem pé nem cabeça, não poderia ser divulgado. Mais confunde do que esclarece.


*Coluna Roger Brunetto, 21 de novembro de 2007.