A música '1979' – Smaching Pumpkins’ nem tinha
terminado e eu já estava pedindo para que o garçom a colocasse novamente. “Mas
é a quinta vez”, reclamou o jovem vestido caracteristicamente de calça preta e
camisa branca.
Na verdade isso já estava virando rotina. Toda
noite, por volta das 19h, eu e o seu Favari nos encontrávamos no bar do hotel.
Foi em maio de 1996, lá pelos meus 23 anos de idade, em Chapecó, quando era
repórter da RBS TV. E sempre era o mesmo ritual: eu levava o CD e pedia para o
garçom colocar o meu som preferido na época.
Naquele horário só eu e o Fava, um advogado aposentado
bem sucedido, frequentávamos o local. Devia ser por isso que quase sempre era
atendido. Pelo menos até às 20h30 quando o movimento efetivamente começava.
Certa vez o advogado de outrora me disse para não
me entusiasmar com aquela canção americana como ele a definia. Afirmava - como
de fato ocorreu - que eu iria enjoar. Retruquei. Afirmei que jamais deixaria de
curtir aquela música. Favari, então, com a sabedoria que só os acima dos 50
anos detém, sorriu e falou: “Engana-se meu jovem repórter”.
O senhor de cabelos grisalhos comparou minha
voracidade em ouvir repetidamente aquela música com o casamento. Antes que
abrisse minha boca, que naquele momento saboreava um longo gole de uísque 12
anos, disse-me: “No começo é assim. Não muito tempo depois vem a rotina e, com
ela, o cansaço e a apatia”.
Fingi não entender. Ele, então, explicou-me que o
casamento não difere muito de uma canção de sucesso que, no começo, é executada
várias vezes ao dia, porém, com o passar do tempo, sequer é selecionada na programação
da madrugada - quando são poucos os ouvintes. “O tempo, quase sempre,
transforma o entusiasmo em tédio”, filosofou o divorciado de três mulheres.
Então, indaguei: “E o que dizer daqueles grandes
sucessos que depois de muito tempo reaparecem e sempre agradam?”, Esses, disse
ele, são como as ex-esposas ou ex-namoradas. Foi bom enquanto durou. Só que não
deu mais certo, mas depois de um tempo, somente por alguns momentos, sem
compromisso, nos fazem bem. Naquele momento tocou o aparelho celular dele que
apenas disse (quase que sussurrando): “no mesmo lugar, no horário de sempre”.
Era uma de suas ex-mulheres. A segunda para ser mais exato. E ela não queria
discutir pensão...