10 de outubro de 2016
SORRIA I
Sou um nada.
Admito. Porém, existo. E mesmo reconhecendo minha insignificância não consigo,
apesar de ter consultado vários psiquiatras, psicólogos e psicanalistas deixar
de curtir, e muito, uma música brega, dos anos 1970, do Evaldo Braga,
intitulada ‘Sorria, Sorria’.
A questão é
intrigante. A canção é sobre uma mulher que abandonou um homem e depois,
arrependida, quis reatar. Não há relação
alguma entre a letra e o que invade meus pensamentos ao escutá-la. Algo
inexplicável.
SORRIA II
Só
sinto obsessão em ouvi-la ao observar lambe-botas de
desonestos. Ou quando chegam aos meus ouvidos comentários hilários de pessoas
que desconhecem a honestidade e cometem ilicitudes de forma burlesca. Algumas
situações são cômicas. ‘Varzeanos’ que querem ser ingleses...
SORRIA III
Num
lugar onde a vontade de alguns em aparecer e de mostrar o que têm é tão
voraz ao ponto de envergonhar o ridículo, a música do Evaldo Braga soa bem. É
animada. Diverte.
Talvez, mesmo
sem querer, o saudoso cantor deixou mensagens “subliminares irônicas”. Às vezes
chego a questionar se não seria “um enigma que não consegui desvendar”
SORRIA IV
Devo
confessar, porém, que detesto escutá-la quando percebo gente batalhadora que
tem uma vida confortável graças ao trabalho honesto.
Pessoas
educadas que desmancham o algoz com gentileza e não com ofensas. Inteligentes
que aprenderam que a sutileza do constrangimento desarma muito mais que estilos
grosseiros ou prepotentes.
SORRIA V
Poderia citar
outros exemplos, mas sou limitado e imperceptível e, na minha mais absoluta e
reconhecida insignificância, lembro-me de Paul Valéry: “Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de
se deixar distinguir”.
Gosto de
comparar a frase do poeta francês com a letra da música do Evaldo Braga quando
meus pensamentos são invadidos por determinadas ações protagonizadas por
migueloestinos (ou seriam ‘migués’?)
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