A insônia – sua companheira quase que
inseparável – e a temperatura agradável da madrugada o levaram, como de
costume, a se acomodar numa cadeira no quintal atrás da casa. Em pouco tempo a
luminosidade da lua cheia cederá lugar à claridade do nascer de um novo dia que
para mais perto da morte me levará, refletiu numa mistura de filosofia barata e
desesperança. Acrescentou, ainda: amanhã ainda mais. E mais ainda depois de
amanhã.
Matutou: caminhamos cada vez mais
apressadamente para viver, mas no final vamos morrer. Mas isso vale só para os
outros. Aos outros, só vale para nós. Aliás, não se esqueça de viver para
morrer.
Recordou Benito Mussolini que afirmou
que é melhor viver um dia de leão, do que cem anos de cordeiro. Atrapalhado e
indeciso, viveu um sendo cordeiro. Quando a decadência começou, sua
alimentação era à base de sopa de leite com arroz para combater a severa gastrite.
A iminente derrota na 2ͣ Guerra deixava-o cada vez mais confuso. Suas trocas de ideias eram tão constantes que
chegou num estágio que seus subordinados não cumpriam suas ordens, pois era
certo que, no máximo, em duas horas o ‘duce’ italiano mudaria os planos.
Quem fala aos outros na verdade diz para
si. Analisem, por exemplo, os pensamentos do cantor e compositor Chorão –
Charlie Brown Jr. Todos sabem como foi seu fim.
Por falar em músicos: os que já
ultrapassaram os 40 e, principalmente, os cinquentões recordam a forte
personalidade de Elis Regina. Neste mês completam 35 anos de sua partida. Até
hoje não surgiu uma intérprete – e voz – tão magistral. Alternava cocaína com
calmantes. Compreensível para uma mulher talentosa, porém insegura que insistia
em manter uma postura arrogante para não demonstrar sua fragilidade emocional. A ‘máscara’ caiu quando o coração não suportou mais as constantes e crescentes misturas
da droga estimulante com remédios relaxantes.
Celso Blues Boy se foi recentemente, em
2012, com apenas 56 anos de idade. Talvez a resposta para sua morte pré-matura
esteja numa de suas músicas, intitulada ‘A Vida Faz Mal à Saúde’.
Na intensa vontade de viver, alguns
alcançam a morte. Outros vivem tão vagarosamente que a morte não os percebe e,
consequentemente, demora a visita-los. Há os que clamam por ela. Inútil. Ela
não ouve. Só enxerga. Por isso, talvez, muitos agem por conta própria,
abreviando suas vidas – direta e, principalmente, indiretamente.
Vários serão apresentados a uma vida
normal quando os ‘monstros’, camuflados de transtornos e que são alimentados
pelos próprios doentes, desaparecerem de suas complicadas mentes. Mas, de tão
acostumados, poderão sentir falta. Viverão sem angústias e outros tormentos,
porém tristes. Talvez, inconscientemente, desenvolveram a conhecida síndrome de
estocolmo com a doença. Ou consideram os efeitos colaterais das medicações
piores que a enfermidade.
Muitos não sabem se a vida começa ou
acaba aos 40. São aqueles que apenas ‘tocam a vidinha’, tipo um time
desmotivado que entra em campo só para cumprir tabela. Alegram-se ouvindo
canções tristes. Consideram a solidão a melhor companhia. Vários são até invejados
pelas condições que vivem. Mas não adianta. A esperança esvaneceu de tal forma que ficarão
eufóricos quando ouvirem o próprio ‘canto do cisne’.