27 de fevereiro de 2015

O OUTRO

Várias vezes, quando se reuniam, os amigos de Nélvio se perguntavam quando ele se envolveria num relacionamento amoroso sério. O engenheiro, sua profissão, que já não era tão jovem, não tinha namorada. Era do tipo ‘ficar’; sem nenhum compromisso.

Certa vez, Nélvio foi visto com uma mulher escultural: bonita, corpo perfeito, educada e de bom gosto no vestir. Não demorou muito e o par foi flagrado novamente.

Os amigos, em mais um encontro, foram unânimes: desta vez Nélvio namoraria sério. Sairia com o novo amor de mãos dadas. Jantaria fora. Aos domingos, almoçaria na casa dela com os seus pais.

O tempo passou. O engenheiro continuava a se encontrar com a ‘preatty woman’, porém jamais em público. Isso aguçava a curiosidade dos amigos. Eles não entendiam o motivo de ele não a assumir.

Numa sexta-feira, depois das 18h, na choperia, os amigos se encontram. De repente, discretamente, aparece o Nélvio - sozinho -. Depois de muito trago e papo furado, um deles, sem rodeios, olha para o Nélvio e pergunta: Por que você não namora sério om aquela ‘deusa’? O engenheiro tomou, sossegadamente, um gole de chope, sorriu, e apenas disse que preferia ser o ‘outro’. Ninguém entendeu. Nélvio, então, explicou: “A moça, de fato, é bonita. Percebo, inclusive, que qualquer um de vocês, a exemplo de muitos outros, gostaria de, digamos, possuí-la. Ou, quem sabe, tê-la como esposa. Tenho consciência disso e, por isso, resolvi agir de forma diferenciada. Não quero ser o ‘oficial’. Prefiro ser o ‘outro’”.

Bebericou mais um gole e continuou: “Sendo ela uma ‘mulher perfeita’, não faltarão homens a cortejá-la. Ela não resistirá e, inevitavelmente, cedo ou tarde, se entregará a um dos pretendentes. Quando isso acontecer, se eu for o ‘titular’, serei tachado de ‘corno’ o que, para mim, é uma desonra”. Naquilo toca o celular. O engenheiro apenas diz: no lugar de sempre. Paga a sua parte da conta, se despede e sai. Os amigos, boquiabertos, nada falaram.


Na verdade, Nélvio era adepto ao adágio ‘melhor saborear ‘filé’ com os outros do que ‘pelanca’ sozinho’. Porém, com um detalhe: que o filé não fosse dele.