19 de novembro de 2013

“OS FELIZES RIDÍCULOS”

Numa dessas madrugadas insones - que insistem em me perseguir - e a ardência avisava que os olhos não conseguiam acompanhar o raciocínio na leitura, larguei o livro e apaguei a luminária na inútil ilusão que o sono chegaria. Mas nada. Nada, também, a fazer a não ser esperá-lo.

Quando isso acontece só me resta pensar. E, repentinamente, me veio à memória tudo o que classifico de ridículo e, principalmente, seus adeptos. Matutei e conclui que, ao praticarem o que eu julgo burlesco, estão sorrindo, alegres, felizes. Outro detalhe: não aparentam preocupação, se estão sendo observados ou zombados.

Eu queria me livrar daqueles pensamentos, mas - ao contrário da sonolência - eles invadiram obsessivamente meu cérebro. Tentei me libertar. Inútil. Então, contra minha vontade, fui avaliando os que, em minha concepção, são bregas. Naquela altura a insônia já tinha se instalado de ‘mala e cuia’ em minha cama. E as comparações começaram. Em todos os sentidos, aspectos, circunstâncias, jeitos e maneiras de encarar os mais diversos tipos de situações.

E o relatório final de minha ‘incursão avaliativa de conduta’ foi simples e taxativo: os ridículos são muito mais felizes do que aqueles que desaprovam suas atitudes. E mais: naquele horário, bem provavelmente, estavam dormindo sossegadamente, sem auxílio de soníferos.

Quem sabe, ao invés de ‘desprezados’, - por muitos - deviam ser ‘admirados’. E, do nada, recordei àquela música do Gonzaguinha - que por sinal considero ridícula - ‘O que é, O que é?’.

Na manhã seguinte, porém, lembrei-me de tudo e concluí que 'foi apenas um mal-estar passageiro'.