Numa dessas madrugadas insones - que
insistem em me perseguir - e a ardência avisava que os olhos não conseguiam
acompanhar o raciocínio na leitura, larguei o livro e apaguei a luminária na
inútil ilusão que o sono chegaria. Mas nada. Nada, também, a fazer a não ser
esperá-lo.
Quando isso acontece só me resta pensar.
E, repentinamente, me veio à memória tudo o que classifico de ridículo e,
principalmente, seus adeptos. Matutei e conclui que, ao praticarem o que eu
julgo burlesco, estão sorrindo, alegres, felizes. Outro detalhe: não aparentam
preocupação, se estão sendo observados ou zombados.
Eu queria me livrar daqueles
pensamentos, mas - ao contrário da sonolência - eles invadiram obsessivamente
meu cérebro. Tentei me libertar. Inútil. Então, contra minha vontade, fui
avaliando os que, em minha concepção, são bregas. Naquela altura a insônia já
tinha se instalado de ‘mala e cuia’ em minha cama. E as comparações começaram.
Em todos os sentidos, aspectos, circunstâncias, jeitos e maneiras de encarar os
mais diversos tipos de situações.
E o relatório final de minha ‘incursão
avaliativa de conduta’ foi simples e taxativo: os ridículos são muito mais
felizes do que aqueles que desaprovam suas atitudes. E mais: naquele horário,
bem provavelmente, estavam dormindo sossegadamente, sem auxílio de soníferos.
Quem sabe, ao invés de ‘desprezados’, - por muitos - deviam ser ‘admirados’. E, do nada, recordei àquela
música do Gonzaguinha - que por sinal considero ridícula - ‘O que é, O que
é?’.
Na manhã seguinte, porém, lembrei-me de tudo e concluí que 'foi apenas um mal-estar passageiro'.