29 de janeiro de 2013

O SONHO INVERTIDO

        Todo jovem é idealista. E mais felizes são os sonhadores e que lutam por suas metas. No caso dos adolescentes que estão dando os primeiros passos para a vida adulta é admirável observar a confiança invadir a ingenuidade e se transformar em convicção. Chega a contagiar.
        Nesta idade é normal - e até saudável - sair à noite, fazer novas amizades, enfim se divertir. E foi exatamente isso que fizeram aqueles mil jovens na madrugada de sábado para domingo em Santa Maria.
          A programação era simples. Dançar, conversar e aproveitar o bom desta idade. Normal. Sem dilema. Mas a fatalidade, sorrateiramente e, sobretudo, covardemente, não quis que fosse como deveria ser. E, então, convidou seu irmão, o anormal, para inverter o ciclo. E o fizeram de forma cruel e desumana. Quimeras, recém-iniciadas, foram interrompidas. Mais do que isso: jovens, de uma geração cuja expectativa de vida é de chegar, no mínimo, aos 100 anos de idade, foram arrancados brutalmente do convívio de seus familiares. Sem piedade. Sem ‘uma segunda chance’. Sem, ao menos, um último aceno em forma de adeus.
         Alguém pode dizer que a sorte foi madrasta com aqueles que tiveram a vida ceifada prematuramente. Consolo barato, levando em conta a proporção da tragédia. Neste caso não há conforto. Não há explicação. Não há palavras. Só há o vazio e o silêncio que por um bom tempo predominarão na vida daqueles que geraram a vida dos 232 jovens mortos no incêndio da boate Kiss.