Todo jovem é idealista. E mais felizes
são os sonhadores e que lutam por suas metas. No caso dos adolescentes que estão
dando os primeiros passos para a vida adulta é admirável observar a confiança
invadir a ingenuidade e se transformar em convicção. Chega a contagiar.
Nesta idade é normal - e até saudável -
sair à noite, fazer novas amizades, enfim se divertir. E foi exatamente isso que
fizeram aqueles mil jovens na madrugada de sábado para domingo em Santa Maria.
A programação era simples. Dançar,
conversar e aproveitar o bom desta idade. Normal. Sem dilema. Mas a fatalidade,
sorrateiramente e, sobretudo, covardemente, não quis que fosse como deveria ser.
E, então, convidou seu irmão, o anormal, para inverter o ciclo. E o fizeram de
forma cruel e desumana. Quimeras, recém-iniciadas, foram interrompidas. Mais do
que isso: jovens, de uma geração cuja expectativa de vida é de chegar, no mínimo, aos 100 anos de idade, foram
arrancados brutalmente do convívio de seus familiares. Sem piedade. Sem ‘uma
segunda chance’. Sem, ao menos, um último aceno em forma de adeus.
Alguém pode dizer que a sorte foi
madrasta com aqueles que tiveram a vida ceifada prematuramente. Consolo barato,
levando em conta a proporção da tragédia. Neste caso não há conforto. Não há
explicação. Não há palavras. Só há o vazio e o silêncio que por um bom tempo
predominarão na vida daqueles que geraram a vida dos 232 jovens mortos no
incêndio da boate Kiss.