27 de abril de 2012

SORRIA II

          Num lugar onde a vontade de alguns em aparecer e de mostrar o que têm é tão voraz ao ponto de envergonhar o ridículo, a música do Evaldo Braga soa bem. É animada. Diverte. Talvez, mesmo sem querer, o outrora grande músico deixou mensagens irônicas nas ‘entrelinhas’ da letra. Às vezes chego a questionar se não seria um enigma que não consegui desmistificá-lo.   
          Devo confessar, porém, que detesto escutá-la quando percebo gente batalhadora que tem uma vida confortável graças ao trabalho honesto.  Pessoas educadas que desmancham o algoz com gentileza e não com ofensas. Inteligentes que aprenderam que a sutileza do constrangimento desarma muito mais que estilos grosseiros ou prepotentes.   
         Poderia citar outros exemplos, mas sou limitado e imperceptível e, na minha mais absoluta e reconhecida insignificância, lembro-me de Paul Valéry: "Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir". Gosto de comparar a frase do poeta francês com a letra da música do Evaldo Braga quando meus pensamentos são invadidos por ações protagonizadas por migueloestinos e migués.