22 de outubro de 2019

CORAÇÃO SEQUESTRADO (da série crônicas ficcionistas)


O ano: 1998. A música: ‘Viva Forever’ com Spice Girls. “Lembre-se de mim sempre que ouvi-la”, disse, quase que sussurrando, e, ao mesmo tempo, o acariciando. Talvez, até, imaginando ser eterna a paixão adolescente por um adulto inconsiderado.

Sua sensualidade fazia com que ele esquecesse, temporariamente, da angústia que começava a se aguçar em forma de pensamentos obsessivos. Obscenos, quando a beijava.

Ele viajava num mundo que, tinha consciência, acabaria logo. Não ouvia a ilusão, pois estar com ela lhe tranquilizava. A quimera também não a afetava, pois em sua ingenuidade pós-infância pensava na eternidade do momento. Ela vivia. Ele fingia não pressentir. 

O mês: outubro. O dia: domingo de madrugada. O som: a embriaguez impediu de lembrar. A estupidez da parte dele. Desta não esquecia. Sua culpa. Assumiu. O fim pré-maturo.  Mas, mais cedo ou mais tarde, o ponto final viria. Apenas o antecipou.

Arrependimento? Nunca soube responder.  Mágoa? Apagou-se com o tempo. Reatar? Não. Lição? O não de uma frágil adolescente pode, sim, espedaçar o coração de um homem, mesmo que seja emocionalmente forte.