25 de setembro de 2017

"MELHOR COMER 'FILÉ' COM OS OUTROS"

A inabilidade em manusear a máquina digital tornou à cena cômica. Ao invés de fotografar, ela filmava o amigo. Os que acompanhavam a situação gargalharam quando Sinira esbravejou com o rapaz dizendo que aquilo não era para tirar fotos, mas um “trósso” para filmagens. Ignorava que o equipamento permitia as duas alternativas.

A jovem não se importou com as risadas. Nessas ocasiões costuma dizer que reconhecia não ser das mais espertas. “Minha beleza recompensa”, gabava-se.

Sinira, que cursava Psicologia, realmente era muito bela. Os cabelos negros combinavam com os lindos olhos verdes e alvos dentes que fazia questão de exibir através de sorrisos perfeitos, principalmente quando notava que alguém contemplava seu corpo de sereia.

O que muita gente não entendia era como Nira - seu apelido - , uma simples funcionária de uma indústria, conseguia pagar a universidade, vestir-se com roupas de grife e, ainda por cima, andar com carro último modelo. “O salário que ganha não dá nem para a gasolina”, diziam os fofoqueiros de plantão. Certa vez realizou um sonho que cultivava desde criança: conhecer a Europa. Tudo isso dava margem aos mais incríveis boatos.

A principal vítima das insinuações era o Rodolfo, dono da fábrica em que a acadêmica de Psicologia trabalhava. Empresário de sucesso, casado e pai de dois filhos, possuía inúmeros imóveis, empresas e euros. Era o oposto da jovem: velho, milionário e feio. Além da beleza não ajudar, era do tipo relaxado. Também não era dado aos bons costumes.

Corria à boca pequena que ele pagava as contas da futura terapeuta. Em troca recebia favores, digamos assim, ‘pouco aconselháveis’. A questão é que ninguém nunca tinha presenciado nada. Nas raras vezes que Sinira aparecia acompanhada era com Alexandre, um aprendiz de mecânico, humilde e sem dinheiro. Isso aguçava a curiosidade de todos. Algo, decididamente, estava errado.

Outro fato que ninguém compreendia era que Alexandre seguidamente era visto conversando com Rodolfo. “No mínimo, nesses encontros, o pobre arrumador de motores implora para que o abastado não saia mais com a moça” concluíam os moradores da cidade.

O mistério se desvendou num baile. Cismadas com a saída repentina de Rodolfo e Alexandre, algumas pessoas resolveram segui-los. O mecânico entrou no possante automóvel do empresário. Foram a um lugar afastado do centro, de difícil acesso. Lá chegando, para espanto geral dos ‘espectadores’, os dois começaram a se acariciar. Desnecessário comentar o restante.

Flagrado e desmoralizado, o pobre Alexandre confessou que ganhava dinheiro do poderoso Rodolfo para “contentá-lo”, realizando seus desejos mais secretos. Disse, também, que repassava a recompensa financeira à Sinara que, ‘mui caridosa’, não se importava de, esporadicamente, sentir de perto o cheiro de graxa do jovem.