3 de setembro de 2017

ALGURES

O ano: 2003. A cidade: Chapecó. O show: Titãs. O local: Estação Brasil. Depois da apresentação, o casal - à época noivos - com o qual eu fui e retornaria no dia seguinte foi para o hotel. Eu segui outro rumo. 

Na verdade parecida que tudo já estava planejado. Não a conhecia, mas várias vezes nos encaramos. Confesso que prestei mais atenção nela, ignorando Branco Mello e sua turma que tocavam as clássicas da banda de rock. 

Terminado o show, a surpresa: ela pegou-me pelo braço e apenas disse para segui-la. Foi o que fiz. Perguntou-me se estava de carro. Disse, então, que era de São Miguel e vim e voltaria de carona. “Liga para seu amigo e diz que está tudo bem. Se for o caso amanhã eu lhe levo a São Miguel ou, no mínimo, à rodoviária”, disse, ou melhor, ordenou a linda morena clara dos olhos azuis.

Fiquei desconfiado, pois naquele tempo tinha muitas inimizades por causa das severas críticas que escrevia na coluna. Mesmo assim ‘acatei a ordem’. Entramos no carro dela e saímos. Ela ligou o som e a primeira pergunta que fiz foi se ela sabia o nome da música que estava tocando. “Seven Nation Army do The White Stripes”, respondeu, adiantando que só ouviríamos aquela canção. “Isso é som de verdade”, acrescentou, diga-se de passagem, com toda razão.

“Para onde vamos?”, indaguei. “Está com medo?”, retrucou. Disse que não, mas era meu direito saber. “Não se preocupe”, limitou-se a dizer. Aumentou o som e me ofereceu um cigarro. “Não fumo”, gritei, pois o volume estava no máximo.

Depois de dez minutos, ela seguiu por uma estrada de chão. Nada falei. Nem ela. Passados mais 15 minutos chegamos a uma casa. “É a chácara dos meus pais”, informou. A lua cheia colaborou para perceber que a residência era muito bonita com um belo jardim e uma piscina aos fundos.

Entramos e ela me conduziu até um quarto. Ligou o ar-condicionado e foi ao banheiro. Quando saiu fiz o mesmo. Ao retornar ela cheirava um pó branco que presumi ser cocaína. Sorrindo, olhou para mim: “Fique à vontade”. Apenas articulei com a cabeça negativamente.

Sem pedir autorização fiquei descalço e deitei na cama. Olhamo-nos. Ela desligou a luz e acionou o abajur. Sem nenhum constrangimento, começou a tirar a roupa. Seminua, deitou-me ao meu lado. Começamos a conversar e o que aconteceu logo em seguida lembro em detalhes até hoje. Foi mais do que sublime. 

Abraçou-me e me confidenciou acontecimentos e situações da vida dela. Contaminado pela sua sinceridade, fiz o mesmo. Não dormimos alguns segundos sequer.

Por volta das 11h  pedi que me levasse ao local onde havia combinado que almoçaria com meu amigo e a noiva dele. Fui prontamente atendido. Durante o trajeto nenhuma palavra. Apenas a música “Seven Nation Army”.

Parou em frente do restaurante e, quando ameacei falar alguma coisa, ela apenas disse: ficaremos juntos para sempre. Não levei a sério. Imaginei que no dia seguinte nem me lembraria do caso. Desdenhei, dias depois, quando ela me procurou. Ela, então, desistiu. Quando tentei localizá-la não consegui.  Nunca mais a vi. E nunca mais a esqueci. Na verdade, ela jamais saiu da minha vida.

https://www.youtube.com/watch?v=VH4flNXvdqE&index=1&list=RDMMVH4flNXvdqE

(legendada).