22 de abril de 2017

SORRIA

SORRIA I
Sou um nada. Admito. Porém, existo. E mesmo reconhecendo minha insignificância não consigo, apesar de ter consultado vários psiquiatras, psicólogos e psicanalistas deixar de curtir, e muito, uma música brega, dos anos 1970, do Evaldo Braga, intitulada ‘Sorria, Sorria’.

A questão é intrigante. A canção é sobre uma mulher que abandonou um homem e depois, arrependida, quis reatar.  Não há relação alguma entre a letra e o que invade meus pensamentos ao escutá-la. Algo inexplicável.

SORRIA II
Só sinto obsessão em ouvi-la ao observar lambe-botas  de desonestos. Ou quando chegam aos meus ouvidos comentários hilários de pessoas que desconhecem a honestidade e cometem ilicitudes de forma burlesca. Algumas situações são cômicas. ‘Varzeanos’ que querem ser ingleses...

SORRIA III
Num lugar onde a vontade de alguns em aparecer e de mostrar o que têm é tão voraz ao ponto de envergonhar o ridículo, a música do Evaldo Braga soa bem. É animada. Diverte.

Talvez, mesmo sem querer, o saudoso cantor deixou mensagens “subliminares irônicas”. Às vezes chego a questionar se não seria “um enigma que não consegui desvendar”

SORRIA IV
Devo confessar, porém, que detesto escutá-la quando percebo gente batalhadora que tem uma vida confortável graças ao trabalho honesto. 

Pessoas educadas que desmancham o algoz com gentileza e não com ofensas. Inteligentes que aprenderam que a sutileza do constrangimento desarma muito mais que estilos grosseiros ou prepotentes. 

SORRIA V
Poderia citar outros exemplos, mas sou limitado e imperceptível e, na minha mais absoluta e reconhecida insignificância, lembro-me de Paul Valéry: “Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir”.

Gosto de comparar a frase do poeta francês com a letra da música do Evaldo Braga quando meus pensamentos são invadidos por determinadas ações protagonizadas por migueloestinos (ou seriam ‘migués’?)