Sei que não posso exigir que seja a
minha a primeira boca a beijar ao despertar. Aliás, apenas uma vez acordamos
juntos. Sequer posso lhe enviar um ramalhete de flores.
Até podemos almoçar no mesmo
restaurante, mas não acompanhados. No máximo, um discreto oi. É ele que a seu
lado está nos jantares, às vezes com cardápios requintados. É o mesmo homem que
controla sua vida.
Mas nas brigas – ou seriam breves
abandonos? – é a mim que você procura. E se entrega totalmente. Sou eu que ouço
seus desabafos e enxugo suas lágrimas. Que lhe possuo do jeito que quero. Momentos que fazem me sentir dominador. Sou
seu dono. Você me pertence. Pelo menos até a sutil carícia da despedida.
O final de mais um encontro ardente faz
com que se inicie a angústia de não se saber quando o repetiremos. Se finda o poderio. O tudo vira nada.
E, às vezes, imagino que não
sou o único, mas, sim, um dos outros. Não. Não seria tão leviana.
Rechaço a ideia que se separe. A
possibilidade sequer foi cogitada nem quando ambos sussurram ou gritam no
apogeu do prazer. Mas a paixão fervente já está incutida. Entrou de forma sorrateira. Caí
na armadilha imperceptível e atroz que faz doer o peito e torna o coração um
escravo.
A fome desapareceu. O sono também. A
cada manhã o espelho mostra um homem mais magro, de rosto surrado, preocupado, fraco,
abatido. “Impossível, talvez seja, viver apenas com o corpo sem a alma”.
E nas festas que frequento observo
tantas mulheres lindas e desimpedidas, mas quando ensaio conversar com alguma
minha mente é invadida pelo seu olhar. Você afirma que seu penamento não consegue se desvincilhar de mim quando está
num encontro social. Quem sabe seja verdade.
Mas a questão é a seguinte: por que não
concorda em terminar tudo? Além de não aceitar, sua reação, quando toco no assunto, demonstra que
também sofre com uma situação que nunca poderia ter chego nesse estágio. Na
verdade, nem deveria ter iniciado. Brincamos com o fogo e estamos nos queimando
cada vez mais.
Por fim, um conselho aos leitores de
minhas mal traçadas linhas: "no se involucre con mujer casada".