A cidade:
Ijuí. O local: Clube Absoluto. A data: réveillon 2013/14. Eu não conhecia
ninguém e ninguém me conhecia. Mas não estava perdido. Sentia-me bem. Estava no
ambiente rock. Quando a banda tocou ‘Pumped Up Kicks’- Foster The People, mesmo
não bebendo nada de álcool, a sensação foi como estivesse embriagado. Estava
feliz pela expectativa de um novo ano. E esperançoso que tudo seria melhor.
No final do
som, muito bem interpretado pelo grupo cover, ela chegou. Do nada. Simplesmente
me tocou no braço e perguntou: podemos conversar? Minha desconfiança de que
poderia ser alguma ‘armação’ foi vencida pelos seus olhos azuis. Sua pele
morena clara, aliada a um corpo desenhado, fez que quase gritasse um sonoro
sim. Consegui me conter e apenas acenar positivamente com a cabeça. Indaguei:
onde? Ela, então, disse que era para segui-la. Adentramos na ala vip. Confesso
que fiquei envergonhado, pois meu ingresso inabilitava meu acesso àquele local.
A mesa de
quatro lugares estava desocupada. Sentamos. Antes que perguntasse, ela
comentou: o casal que estava aqui foi embora. E acrescentou: não se preocupe,
pois compramos a mesa para quatro pessoas. Ou seja: um lugar está vago, pois estou
sozinha.
Pensei: ela
deve estar querendo fazer ciúmes ao namorado ou a um ex. Não apresentava sinal
de embriaguez. Depois das apresentações iniciamos uma longa conversa,
interrompida três vezes. Numa fui ao banheiro. Nas outras duas ela é quem se
deslocou ao ‘toilette’. E, em ambas, percebi, no retorno, que parecia estar ‘eufórica’.
Com discrição, mirei suas narinas. Não constatei nem um vestígio de algo
semelhante a um ‘pó branco’.
Se, por um
lado, eu pensava que ela era usuária de cocaína, por sua vez ela não entendia o
fato de eu não beber nem fumar e, muito menos, usar algum tipo de droga ilícita.
Ela também não compreendia o fato de eu passar a virada de ano numa cidade que
não tinha parentes e não conhecia ninguém. Disse a verdade: gosto de frequentar
lugares diferentes, em cidades desconhecidas com pessoas que nunca vi. Sempre
sozinho?, quis saber. Sim, respondi. Ela não acreditou. Eu não me importei. Há
algo por trás, disse ela. Simplesmente afirmei que não e que apreciava a
liberdade e a solidão.
A partir daí,
apesar de eu ser o jornalista, ela fez inúmeras perguntas. Respondi todas e não
engasguei em nenhuma. O relógio indicava que em poucos minutos seriam 06h.
Disse, então, que estava amanhecendo e voltaria ao hotel. Informei o nome e o
número do apartamento. Ela ficou sem ação e disse não acreditar. Aproveitei
para provocá-la e retruquei: e quem disse que eu acreditei em você? Virei as
costas e saí, irritado. “É impressionante a rapidez de como, além de ideias, os
‘geminianos’ alteram o humor”.
Cinco minutos
depois de me deitar na cama, o interfone tocou. Era o funcionário do hotel
indagando se podia ou não deixar uma morena clara de olhos azuis ‘subir’ para
falar comigo.
E lá ficamos
durante várias horas. Não tínhamos mais assuntos para conversar. Então
destinamos todo o tempo para coisas tão prazerosas - ou mais - que bons
diálogos...