11 de maio de 2016

MORENA CLAROS OJOS AZULES

A cidade: Ijuí. O local: Clube Absoluto. A data: réveillon 2013/14. Eu não conhecia ninguém e ninguém me conhecia. Mas não estava perdido. Sentia-me bem. Estava no ambiente rock. Quando a banda tocou ‘Pumped Up Kicks’- Foster The People, mesmo não bebendo nada de álcool, a sensação foi como estivesse embriagado. Estava feliz pela expectativa de um novo ano. E esperançoso que tudo seria melhor.

No final do som, muito bem interpretado pelo grupo cover, ela chegou. Do nada. Simplesmente me tocou no braço e perguntou: podemos conversar? Minha desconfiança de que poderia ser alguma ‘armação’ foi vencida pelos seus olhos azuis. Sua pele morena clara, aliada a um corpo desenhado, fez que quase gritasse um sonoro sim. Consegui me conter e apenas acenar positivamente com a cabeça. Indaguei: onde? Ela, então, disse que era para segui-la. Adentramos na ala vip. Confesso que fiquei envergonhado, pois meu ingresso inabilitava meu acesso àquele local. 

A mesa de quatro lugares estava desocupada. Sentamos. Antes que perguntasse, ela comentou: o casal que estava aqui foi embora. E acrescentou: não se preocupe, pois compramos a mesa para quatro pessoas. Ou seja: um lugar está vago, pois estou sozinha.

Pensei: ela deve estar querendo fazer ciúmes ao namorado ou a um ex. Não apresentava sinal de embriaguez. Depois das apresentações iniciamos uma longa conversa, interrompida três vezes. Numa fui ao banheiro. Nas outras duas ela é quem se deslocou ao ‘toilette’. E, em ambas, percebi, no retorno, que parecia estar ‘eufórica’. Com discrição, mirei suas narinas. Não constatei nem um vestígio de algo semelhante a um ‘pó branco’.

Se, por um lado, eu pensava que ela era usuária de cocaína, por sua vez ela não entendia o fato de eu não beber nem fumar e, muito menos, usar algum tipo de droga ilícita. Ela também não compreendia o fato de eu passar a virada de ano numa cidade que não tinha parentes e não conhecia ninguém. Disse a verdade: gosto de frequentar lugares diferentes, em cidades desconhecidas com pessoas que nunca vi. Sempre sozinho?, quis saber. Sim, respondi. Ela não acreditou. Eu não me importei. Há algo por trás, disse ela. Simplesmente afirmei que não e que apreciava a liberdade e a solidão.

A partir daí, apesar de eu ser o jornalista, ela fez inúmeras perguntas. Respondi todas e não engasguei em nenhuma. O relógio indicava que em poucos minutos seriam 06h. Disse, então, que estava amanhecendo e voltaria ao hotel. Informei o nome e o número do apartamento. Ela ficou sem ação e disse não acreditar. Aproveitei para provocá-la e retruquei: e quem disse que eu acreditei em você? Virei as costas e saí, irritado. “É impressionante a rapidez de como, além de ideias, os ‘geminianos’ alteram o humor”.

Cinco minutos depois de me deitar na cama, o interfone tocou. Era o funcionário do hotel indagando se podia ou não deixar uma morena clara de olhos azuis ‘subir’ para falar comigo.

E lá ficamos durante várias horas. Não tínhamos mais assuntos para conversar. Então destinamos todo o tempo para coisas tão prazerosas - ou mais - que bons diálogos...