O farmacêutico não chegou a se assustar com o
palavrão que Alberto proferiu. Já estava acostumado. Toda sexta-feira, depois
das 18h, Bola, como era conhecido, ia à balança. A rotina era sempre a mesma: o
peso sempre aumentava e ele, como que automaticamente, dizia um monte de
asneiras.
Também já era costume de Alberto gastar
horrores na compra de remédios e chás para emagrecer. Aliás, devia ser por isso
que o proprietário e os funcionários toleravam seus ataques de fúria.
A exemplo de sua barriga, a conta bancária de
Alberto também era gorda. Ele era inteligente. Pertencia a uma família
tradicional.
A verdade é que Bola realmente era muito
gordo. Para piorar, tinha problema de compulsão: era o primeiro a sentar e o
último a sair da mesa. Como se não bastasse, detestava exercícios físicos.
Os amigos de Alberto tinham menos dinheiro que
ele. Em compensação não tinham a gordura dele. Praticamente todos faziam
sucesso com as mulheres. Nesse ponto residia a maior frustação do Bola. Ele
tinha consciência que as moças lhe diziam não por causa do seu peso.
Mas tudo isso não chegava a lhe abalar. Era
fanfarrão. Sempre bem humorado, chegava a fazer piada de si mesmo. Era uma
companhia agradável. Reclamava, apenas, de seu peso e de não conseguir
diminui-lo.
Andréia era a única que dizia gostar de
Alberto. No entanto, ele não queria nada com ela. Até a esnobava.
Ninguém entendia o fato de Andréia gostar do
Bola. Não era por dinheiro, pois tinha até mais do que ele. A curiosidade de
todos aumentava por ela ser bonita e atraente. Mas não adiantava. Os olhos
verdes, aliados a pele morena clara e ao corpo perfeito não sensibilizavam
Alberto.
Num sábado, depois de uma festa, Alberto deu
carona para Andréia. A minissaia da moça mexeu com os instintos dele. Os dois , que tinham bebido além da conta, acabaram
num motel.
No domingo, Alberto, contrariando a si mesmo,
ligou para Andréia que ficou surpresa. Os dois saíram. Jantaram juntos. E
jantaram muitas outras vezes.
Para espanto de todos, cinco meses depois daquela
festa, Alberto anunciou o noivado. As amigas estranharam o fato de Andréia não
ter se entusiasmado com a ideia. Mais estranho ainda é que Andréia começou a
renegar Alberto. Ele, que tinha um bom-senso de “semancol”, começou a perceber.
Junto com a percepção veio à preocupação. E, com as duas, chegou à
depressão.
Bola era a tristeza em pessoa. Não saía mais
e, por incrível que pareça, se alimentava mal. Quando ia à farmácia não se
dirigia à balança. Também não comprava mais comprimidos para emagrecer, mas,
sim, antidepressivos. É que Andréia o esculachava. Todo mundo sabia que ela
tinha outro. Estava com Alberto por piedade.
Em pouco mais de dois meses, Alberto emagreceu
mais do que todos os regimes que fez juntos. Ficou magro. Agora as mulheres que
o tinham rejeitado corriam atrás dele. Chegou a tal ponto que se obrigou a
trocar o número do celular. Os amigos afirmavam que queriam estar na pele de
Alberto. Entretanto, junto com os quilos extras, a alegria de outrora também se
foi.
Bola, que sempre dizia que só seria feliz se
emagrecesse, conseguiu ficar magro, porém triste.
O destino foi irônico com Bola. Ontem, quando
era gordo e não queria nada com Andréia, que o amava, era feliz. Hoje, magro e
apaixonado por Andréia, que não o quer mais, é infeliz.
E quando nos recordamos da história de Alberto
sempre chegamos a conclusão que é inútil condicionar a felicidade aos desejos
da estética e não aos da alma.