14 de março de 2015

A LARANJA QUE CAIU LONGE DO PÉ

Cornássio Cornélio Cornutti era de origem italiana. Seus antecedentes moraram na Sicíllia. Terra dos mafiosos. Aliás, dizem que o bisavô de Cornássio veio fugido ao Brasil por ter se envolvido com a esposa de um tal de Dom Ceguetti. Nunca se soube da veracidade do caso. No entanto, era de conhecimento de todos que, no Brasil, o patriarca da família colecionava amantes.

Aos 16 anos de idade Cornássio saiu de casa. O motivo foi uma briga por causa das amantes do pai. Nessa época o avô paterno dele morreu. A causa foi uma doença venérea contraída de uma mulher, num romance extraconjungal.

Devido à competência e honestidade, Cornássio foi rapidamente promovido na empresa que trabalhava. Aos 22 anos já era gerente de um departamento. Estavam sob sua responsabilidade mais de 50 funcionários. Entre seus subordinados, estava Adultérica Adulterai. Moça bonita e de corpo escultural. Todo mundo a cobiçava. Não demorou muito para que Cornássio se apaixonasse por ela. Do namoro para o casamento foi questão de meses.

Para desgosto do jovem italiano, a esposa era fascinada pelas histórias das aventuras amorosas do bisavô. Mas ele a amava. Dizia ser um privilegiado em ter uma mulher daquelas. Ele dava tudo que ela pedia. Não a deixava trabalhar fora.

A vida de Cornássio se resumia do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Não tinha boca para nada. Muito menos para discutir com a esposa. Respeitava-a ao extremo.

A primeira filha do casal nasceu. Uma linda morena de olhos azuis. Alguns estranharam. É que Cornássio era claro de olhos castanhos e Adultérica ruiva de olhos pretos.

Certa vez, num churrasco, com seus dois melhores amigos, Cornássio confidenciou que depois do quinto mês de casamento a esposa diminuiu consideravelmente o desempenho sexual.
Ricardão, ‘um moreno de olhos azuis’, considerado o melhor amigo do italiano, o consolou: “Pelo menos assim você não corre o risco de ser traído. Muitas vezes, as mulheres fogosas procuram satisfazer seus ‘desejos’ fora de casa”. Flávio Jakatabo, o segundo melhor amigo de Cornássio, concordou. Ele era de origem japonesa. Muito magro e de baixa estatura, com uma mancha saliente no lado esquerdo do rosto.


O tempo passou e o segundo filho de Cornássio chegou. O recém-nascido teve que ficar um tempo na incubadora por causa do pouco peso. Era franzino. Além disso, tinha os olhos puxados e, ‘inexplicavelmente’, uma mancha no canto esquerdo da face.