*Quando parece não haver um jeito novo
ou diferente. Um jeito novo ou diferente de não ser igual aos chatos que você
conhece. Quando aparece na TV um político metido num óculos de míope falando
sobre a fome e a miséria, discorrendo e descrevendo ser dar uma solução. Quando
você chora de angústia e de dor pelo que corre solto e sem vergonha. Pelo jogo
preparado, pelo xadrez padronizado. Ou quando o seu sonho se desfaz em
desesperança. Feito o presidiário morto sem saber. Morto sem saber na multidão
de uma cela superlotada. Por que você não escreve pra coluna do Tio
José? Ele responde tudo: qualquer pergunta que você fizer. Quando os
padres-nossos rezados na igreja não lhe atendem o pão pedido. Não lhe atendem o pão pedido para aqueles oito
filhos escravizados na favela. Quando no palácio do banquete de mil talheres há
abundância e não comida, que é comida pelo caminhão do lixo dentro do negro
pacote plástico de madrugada. Ou quando você vence o urubu do vestibular e rala
de boteco em boteco. De boteco em boteco pedindo ao português, ao espanhol um
lugar de cozinheiro. Por que você não escreve pra coluna do Tio José? Ele
responde tudo: qualquer pergunta que você fizer.
*Letra de ‘Pergunte ao Tio José’ – Barão
Vermelho (a composição é do Raul Seixas – que não gravou a música – e foi cedida
ao Frejat pela Kika Seixas, a única ex-mulher de Raul que mantém ligação direta
com as obras do ex-cantor baiano).