4 de julho de 2013

*A INDIVIDUALIDADE CONFUNDIDA

Eu sou um individualista. Se não houvesse texto, só essa afirmação, o que você pensaria? Costumamos considerar “individualismo” e seus derivados termos pejorativos. Confundidos muitas vezes com egoísmo. Utilizado também para se referir a alguém que não consegue se relacionar com as pessoas. Ou, talvez, a maior simplificação que conheço: “Eis um narcisista!”. O conhecimento é limitado, o vocabulário nem sempre.

O egoísta, de tão imaturo emocionalmente, nem consegue ser um individualista. Vive em bandos, apoiando a maioria ou o que for conveniente, aproveitando a situação para se promover (ou: o que move cada manifestante?). Digamos que eu seja, ou melhor, que eu tente ser, um individualista no bom sentido.

Um individualista, no bom sentido, é alguém que busca a independência, a autonomia. Acredita no que faz, e tenta ser senhor do próprio destino. Evita encontrar culpados para suas angústias, mesmo sabendo que certos eventos são imprevisíveis e incontornáveis. É um otimista: ele trabalha acreditando que os fatores que ele não controla irão se encaixar. Pura sorte.

Falei em trabalho, e encontro por acaso o mote deste texto: desconfio do termo “vestir a camisa”, que as empresas utilizam para se referir a um funcionário comprometido.

Ele precisa de um motivo para vesti-la. E esse motivo vem da individualidade: perceber que o ambiente de trabalho lhe favorece, estimula seu crescimento, entende suas necessidades. Só assim ele irá retribuir com bom trabalho, bons resultados e bom relacionamento com as pessoas envolvidas.

Temo as pedradas, mas uso meu exemplo: sou um professor individualista. Minha alegria é apoiar um aluno, vê-lo evoluir, mas não é só essa satisfação que me move. Quero crescer junto, aprender também. Uma noite inteira de aula precisa me beneficiar de algum modo: e aqui, percebemos que o indivíduo precisa encontrar propósitos naquilo que faz.

É preciso esquecer a ideia do sacrifício, da pessoa se doar sem nada em troca.

A filosofia de recompensas para os dois lados funciona no trabalho e na vida pessoal. Individualista que sou, quero montar a melhor aula, quero dominar a arte da didática e, consequentemente, ser valorizado e reconhecido. Será que estou pensando só em mim?

*Lucas Miguel Gnigler é professor e jornalista. O filho do promotor de Justiça, Miguel Gnigler, é especializado em Marketing e Gestão Estratégica. Outros textos e informações em www.lucasmiguel.com (inclusive recomendo visualizá-lo).

 
    Agora, nas férias de julho, Lucas e a irmã, Luíza, aproveitaram para fazer um tour pela Europa. Na foto, os dois no Palácio de Versalhes