22 de novembro de 2012

INDIFERENÇA

         Ilustre, o Cafajeste, afirma que a indiferença total está mais para qualidade do que defeito. Reflito e concluo que há fundamento na observação do meu amigo de Carazinho.
          É que todos os centenários que conheci e entrevistei até hoje eram - ou são - pobres. E percebi em todos que o famoso ‘tanto faz’ estava presente em seus semblantes que desconhecem cremes faciais.
         Um deles, aos 120 anos de idade, morava sozinho, num barraco, em uma favela, desprovida de água e luz, em Dionísio Cerqueira.   
       Analfabeto, quando cheguei para entrevistá-lo alimentava-se com pão branco e salame. Tinha alguma dificuldade em ouvir. Do resto, apenas alguns poucos problemas inerentes à idade.
         Questionado sobre o stress, respondeu que não sabia o que era. Então o indaguei de outra forma, mencionando sentimentos como preocupação excessiva, medo, tristeza, alegria, raiva, dinheiro, inveja, poder e outras perguntas do gênero. Em resumo disse-me: “Olha moço, nem sei o que dizer sobre essas coisas”, indiferente comigo - e meu nervosismo - que tentava, sem sucesso, explorar todos os detalhes possíveis da vida do ancião para elaborar a reportagem.