14 de janeiro de 2010

MAIS UMA...

Perto da meia-noite, Dutra, que é separado, liga para suas duas filhas que são tudo para ele. Quem o conhece sabe que é verdade. Ao celular deseja-lhes feliz Natal. Elas moram com a mãe. Esperava-se que fizesse o mesmo com aquela que gerou as suas meninas, como ele carinhosamente as chama, até porque se tratava de uma data especial. Sequer perguntou se estava em casa.
Questionado sobre a atitude, respondeu: “Não falo com ela. É impossível. Eu não entendo a linguagem das bruxas. Aliás, a única frase que eu compreendo muito bem, até pela constante repetição, é ‘preciso de mais dinheiro para as gurias’ que, na verdade, vai para a carteira dela”. E acrescentou, apontando para os solteiros: “Nunca casem”.
Naquilo, um dos que admiravam o chester, que em instantes seria devorado, raciocinou: “Mas Dutra, se você não tivesse casado não teria suas duas filhas que, todos sabem, são sua vida e que você, mesmo sabendo que nunca conseguirá, há anos insiste em ter a guarda delas, tamanho seu amor pelas duas”.
Neste momento, o frango dourado deixou de ser a atenção principal dos olhares que, de forma rápida e ao mesmo tempo, se fixaram no Dutra. Estávamos ansiosos para ouvir a resposta dele. “Contra fatos não há argumentos”, resignou-se.